A discussão sobre Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Brasil é marcada por um dilema antigo: por muito tempo, a elite teve acesso à formação científica e cultural, enquanto às classes trabalhadoras restou uma educação elementar e voltada para o trabalho manual. É nesse contexto que a pesquisadora Maria Ciavatta propõe uma reflexão profunda sobre o trabalho como princípio educativo.
Na obra analisada, Ciavatta dialoga com pensadores como Karl Marx, Antonio Gramsci e Dermeval Saviani, entre outros, para mostrar que o trabalho pode ser mais do que um meio de sobrevivência. Ele pode ser formativo, desde que esteja integrado a práticas pedagógicas críticas e a currículos que unam teoria e prática.
A autora lembra, porém, que o trabalho não é automaticamente educativo. Ele só cumpre esse papel quando:
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É realizado em condições que respeitem a dignidade humana;
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Está articulado a uma formação que conecte saberes científicos e tecnológicos à compreensão crítica da sociedade;
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Incentiva a autonomia intelectual e a participação social.
Essa visão contrasta com modelos tecnicistas, que reduzem a EPT a um treinamento rápido para atender demandas imediatas do mercado. Em vez disso, a proposta é formar cidadãos capazes de compreender e transformar o mundo do trabalho, e não apenas de se adaptar a ele.
O caminho para isso passa pela formação politécnica e pela integração curricular, superando a divisão entre atividades manuais e intelectuais, e exige investimento na formação docente, recursos adequados e uma mudança de mentalidade sobre o papel da educação.
No fim das contas, o trabalho como princípio educativo não é apenas sobre preparar para um emprego, mas sobre preparar para a vida em sociedade, com consciência histórica, técnica e política.
É um convite para que a EPT seja mais crítica, humana e transformadora.
📚 Para saber mais, vale conferir o artigo completo de Maria Ciavatta: "Trabalho como princípio educativo".