sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Formação Profissional e Inteligência Artificial: entre a urgência operacional e a necessidade de fundamentos



Ponto de partida

As transformações aceleradas do século XXI têm pressionado a formação profissional a responder a demandas imediatas do mercado. Nesse cenário, o estudo de Mossin et al. (2025) e a pesquisa de Ferreira (2025), que discute os desafios éticos das inteligências artificiais generativas, oferecem reflexões fundamentais. Ambos os trabalhos criticam modelos formativos centrados apenas no uso de ferramentas e alertam para os riscos de uma formação que sacrifica fundamentos científicos, culturais e éticos em nome da rapidez. Dessas leituras decorrem as reflexões apresentadas a seguir.


A superação do enfoque instrumental na formação profissional

Mossin et al. (2025) mostram que a formação profissional tem sido dominada por cursos curtos, operacionais e orientados a resultados imediatos. Esse modelo cria profissionais capazes de executar tarefas, mas pouco preparados para compreender transformações tecnológicas, interpretar contextos complexos e atuar criticamente. A ausência de fundamentos fragiliza a autonomia intelectual e restringe a capacidade de adaptação, um problema sensível em um cenário marcado por mudanças constantes.

Ferreira (2025) reforça essa preocupação ao examinar o uso das inteligências artificiais generativas. Sem base teórica sólida, o estudante tende a utilizar a IA de maneira acrítica, o que compromete a autoria, o pensamento próprio e o processo formativo como um todo.

Superar esse cenário exige estratégias curriculares que recuperem a formação integral. A articulação entre teoria e prática é um primeiro passo decisivo. O domínio técnico precisa vir acompanhado de compreensão histórica, fundamentos científicos, impactos sociais e implicações éticas da tecnologia.

A pesquisa como método formativo é outro eixo essencial. Ao pesquisar, comparar fontes e construir argumentos, o estudante desenvolve autonomia intelectual e pensamento crítico, algo que nenhum treinamento puramente instrumental é capaz de proporcionar.

A interdisciplinaridade também se impõe como necessidade. O mundo do trabalho reúne dimensões técnicas, sociais e culturais; currículos fragmentados não acompanham essa complexidade. Além disso, a formação ética em tecnologias digitais deve integrar o currículo, abordando temas como autoria, privacidade, responsabilidade e limites do uso de ferramentas generativas.


Benefícios e riscos da IA na gestão educacional

A IA oferece benefícios significativos à gestão educacional. Pode otimizar processos administrativos, organizar dados, apoiar decisões e liberar tempo para atividades pedagógicas. Ferreira (2025) mostra que, quando usada com responsabilidade, a IA auxilia na análise de informações, na elaboração de materiais e na revisão textual, ampliando a eficiência institucional.

Os riscos, contudo, são relevantes. Mossin et al. (2025) alertam que modelos formativos pragmáticos tendem a gerar dependência; e o uso acrítico da IA pode aprofundar essa fragilidade. Ferreira identifica questões delicadas relacionadas à autoria, originalidade e uso indevido de ferramentas generativas, que demandam diretrizes claras e mediação pedagógica.

Há ainda preocupações com privacidade e segurança de dados, considerando que muitos sistemas de IA operam com bases pouco transparentes. O viés algorítmico também representa risco concreto, capaz de reproduzir desigualdades se não houver monitoramento contínuo. Outro ponto de atenção é o uso da IA para substituir processos humanos complexos, o que pode gerar decisões descontextualizadas e pouco sensíveis às particularidades das instituições.

As duas obras convergem na mesma direção: a tecnologia pode ser aliada, mas não substitui o discernimento humano nem redefine, por si só, o sentido formativo da educação.


Para fechar o percurso

O desafio da era da IA não é apenas tecnológico, mas essencialmente formativo. Mossin et al(2025) mostram que a formação reduzida ao operacional gera fragilidade intelectual; Ferreira (2025) evidencia que, diante das inteligências artificiais generativas, essa fragilidade se torna risco ético e institucional.

Formar profissionais capazes de operar tecnologias é necessário. Formar sujeitos capazes de compreendê-las, questioná-las e decidir diante delas é indispensável. É nesse ponto de equilíbrio entre fundamentos, ética e inovação que a educação contemporânea precisa se posicionar.


Saiba mais sobre os autores e suas obras (referências):


FERREIRA, Sarah Cristina Maria. A produção acadêmica nos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu ProfEPT e PPGET, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro [recurso eletrônico]: desafios éticos diante das inteligências artificiais generativas. 2025. 206 f. Dissertação (Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) – Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2025. Disponível em:  https://repositorio.iftm.edu.br/acervo/detalhe/41028. Acesso em: 21 nov. 2025.

MOSSIN, Eduardo André et al. Reflexões sobre a inteligência artificial à luz dos fundamentos da educação profissional e tecnológica. Educação em Revista, v. 41, p. e53835, 2025. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edur/a/WrWpmWQby4CcRhJ6DJXzVnr/?format=html&lang=pt. Acesso em: 21 nov. 2025.



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