Ponto de partida
Mossin et al. (2025) mostram que a formação profissional tem sido dominada por cursos curtos, operacionais e orientados a resultados imediatos. Esse modelo cria profissionais capazes de executar tarefas, mas pouco preparados para compreender transformações tecnológicas, interpretar contextos complexos e atuar criticamente. A ausência de fundamentos fragiliza a autonomia intelectual e restringe a capacidade de adaptação, um problema sensível em um cenário marcado por mudanças constantes.
Ferreira (2025) reforça essa preocupação ao examinar o uso das inteligências artificiais generativas. Sem base teórica sólida, o estudante tende a utilizar a IA de maneira acrítica, o que compromete a autoria, o pensamento próprio e o processo formativo como um todo.
Superar esse cenário exige estratégias curriculares que recuperem a formação integral. A articulação entre teoria e prática é um primeiro passo decisivo. O domínio técnico precisa vir acompanhado de compreensão histórica, fundamentos científicos, impactos sociais e implicações éticas da tecnologia.
A pesquisa como método formativo é outro eixo essencial. Ao pesquisar, comparar fontes e construir argumentos, o estudante desenvolve autonomia intelectual e pensamento crítico, algo que nenhum treinamento puramente instrumental é capaz de proporcionar.
A interdisciplinaridade também se impõe como necessidade. O mundo do trabalho reúne dimensões técnicas, sociais e culturais; currículos fragmentados não acompanham essa complexidade. Além disso, a formação ética em tecnologias digitais deve integrar o currículo, abordando temas como autoria, privacidade, responsabilidade e limites do uso de ferramentas generativas.
Benefícios e riscos da IA na gestão educacional
A IA oferece benefícios significativos à gestão educacional. Pode otimizar processos administrativos, organizar dados, apoiar decisões e liberar tempo para atividades pedagógicas. Ferreira (2025) mostra que, quando usada com responsabilidade, a IA auxilia na análise de informações, na elaboração de materiais e na revisão textual, ampliando a eficiência institucional.
Os riscos, contudo, são relevantes. Mossin et al. (2025) alertam que modelos formativos pragmáticos tendem a gerar dependência; e o uso acrítico da IA pode aprofundar essa fragilidade. Ferreira identifica questões delicadas relacionadas à autoria, originalidade e uso indevido de ferramentas generativas, que demandam diretrizes claras e mediação pedagógica.
Há ainda preocupações com privacidade e segurança de dados, considerando que muitos sistemas de IA operam com bases pouco transparentes. O viés algorítmico também representa risco concreto, capaz de reproduzir desigualdades se não houver monitoramento contínuo. Outro ponto de atenção é o uso da IA para substituir processos humanos complexos, o que pode gerar decisões descontextualizadas e pouco sensíveis às particularidades das instituições.
As duas obras convergem na mesma direção: a tecnologia pode ser aliada, mas não substitui o discernimento humano nem redefine, por si só, o sentido formativo da educação.
Para fechar o percurso
O desafio da era da IA não é apenas tecnológico, mas essencialmente formativo. Mossin et al. (2025) mostram que a formação reduzida ao operacional gera fragilidade intelectual; Ferreira (2025) evidencia que, diante das inteligências artificiais generativas, essa fragilidade se torna risco ético e institucional.
Formar profissionais capazes de operar tecnologias é necessário. Formar sujeitos capazes de compreendê-las, questioná-las e decidir diante delas é indispensável. É nesse ponto de equilíbrio entre fundamentos, ética e inovação que a educação contemporânea precisa se posicionar.
Saiba mais sobre os autores e suas obras (referências):
FERREIRA, Sarah Cristina
Maria. A produção acadêmica nos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu
ProfEPT e PPGET, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro [recurso
eletrônico]: desafios éticos diante
das inteligências artificiais generativas. 2025. 206 f. Dissertação
(Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) – Instituto Federal do
Triângulo Mineiro, Uberaba, 2025. Disponível em:
https://repositorio.iftm.edu.br/acervo/detalhe/41028. Acesso em: 21 nov.
2025.
MOSSIN, Eduardo André et al. Reflexões sobre a inteligência artificial à luz dos fundamentos da educação profissional e tecnológica. Educação em Revista, v. 41, p. e53835, 2025. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edur/a/WrWpmWQby4CcRhJ6DJXzVnr/?format=html&lang=pt. Acesso em: 21 nov. 2025.
